Busca sem resultado
jusbrasil.com.br
25 de Abril de 2024
    Adicione tópicos

    Efeito dominó da crise assusta a Inglaterra

    Publicado por Expresso da Notícia
    há 15 anos

    Na City de Londres, o coração do centro financeiro da Inglaterra, as mais de cinco mil demissões já anunciadas por conta da recente crise ainda são vistas como só o início dos ajustes. O volume de demissões, o maior corte de pessoal desde 1998, poderá alcançar mais de dois milhões até o final de dezembro. Analistas já fazem previões sinistras, assegurando que o número de demissões irá superar três milhões antes de 2010.

    As estimativas pessimistas fazem crescer as pressões para que o governo birtânico anuncie um pacote de cortes significativos de impostos e aumentos de gastos públicos para estimular a economia.

    O líder do governo, David Cameron, anunciou um proejto de investimentos da ordem de 2,6 bilhões de líbras. Outro projeto prevê recursos de 2.500 líbras de incentivo para as empresas que contratarem trabalhadores há mais de três meses sem emprego.

    O desemprego está prejudicando não só setores financeiros e de construção, onde a crise estourou. Os segmentos de tecnologia, mídia e publicidade já sentem os efeitos da retração. O grupo de mídia Virgin Media já anunciou no corte de 2.200 empregos até 2012. O grupo tem 76 escritórios espalhados pelo Reino Unido. Serão afetados os escritórios de Londres, Edimburgo, Nottingham e Sheffield. A União de Trabalhadores de Comunicação divulgou comunicado se dizento "desapontada" com as demissões.

    Na Yell, empresa de páginas amarelas e diretórios online, estãom previstas cerca de 1300 demissões. A GlaxoSmithKline, o maior grupo farmacêutico do Reino Unido, anunciou planos de fechamento de sua fábrica em Dartford, que hoje emprega 620 trabalharores. Apesar de o setor farmacêutico ser conhecido como um dos menos vulneráveis às crises, a perda de proteção de uma patente selou o destino trágico dos demitidos.

    Apesar dos planos do governo, os analistas dizem que só o setor público experimentará alguma expansão de empregos nos próximos dois anos. Cortes em taxas de juros e redução de impostos levarão muitos meses para realimentar a economia, conforme extensa reportagem do jornal The Independent, mostrando os efeitos do desemprego no agravamento da crise econômica na Inglaterra..

    Efeito dominó

    O desespero de Peter Sastawnyuk, de 53 anos, é apontado pelo jornal The Independent, de Londres, como um "sinal dos tempos". Ele encheu sua suntuosa casa, em Pennines, avaliada em 370 mil líbras, de latas de combustível e lacrou todas as portas e janelas, ameaçando mandar tudo pelos ares. Após a ação da polícia, os vizinhos souberam que aquele pacato cidadão, cujas crianças estudavam em seleta escola particular, agiu assim porque seus sonhos "implodiram" com a recente crise econômica. Depois de perder o emprego, Sastawnyuk soube que sua casa seria retomada.

    O jornal cita vários outros casos emblemáticos da recente crise, como o do agrimensor Karl Harrison, de 40 anos, que se matou. Desempregado, Harrison vinha sendo pressionado pela empresa Oakwood Homeloans, que cobrava as prestações atrasadas. Agora, a viúva de Harrison pôs a casa à venda.

    Para o tradicional diário londrino, porém, a crise econômica não é feita apenas de grandes dramas. Jackie Horn viu seu mundo desabar recentemente, quando saiu de sua elegante casa, perto da cidade de Edwardian, adquirida mediante um financiamento há 12 anos. Dirigindo seu pequeno Peugeot prata, cujo financiamento acabou de quitar, Jackie se deslocou até o Parque industrial de Vauxhall, onde está situada a sua empresa, a Chemix.

    A rotina de 16 anos de trabalho, se alterou quando viu, na porta da empresa, um conjunto de homens engravatados, distribuindo papéis e disparando ordens a todos os que chegavam. A empresa onde ela galgou rapidamente cargos que lhe permitiram subir na escla social - de recepcionista chegou ao cargo de programadora de informática - estava falida.

    Jackie e seus colegas tinham rejeitado uma proposta da empresa, feita hjá alguns meses, para que a carga horária fosse reduzida, formando-se turnos de três ou quatro dias de trabalho por semana, com a correspondente redução de salário. A empresa alegava que a força de vendas, movida por um exército de vendedores portaaporta, acusava sinais de desaquecimento. Os funcionários, porém, recusaram a redução salarial.

    "Foi um choque", disse Jackie. "Ver de repente todo o mundo dizendo adeus". Ela ainda foi considerada uma profissional de sorte porque a informaram que seria mantida ainda durante umas duas semanas extras, a fim de ajudar com as atividades dos gestores noemados para tratar da falência. Concluído esse período, Jackie se juntou aos centenas de milhares de desempregados da recente crise que assola a Inglaterra.

    Reação em cadeia

    A história de Jackie e de sua ex-empregadora, a Chemix, é apontada como um exemplo do efeito em cadeia provocado pela "crise das hipotecas". A empresa vendia janelas pré-fabricadas. Com o desaquecimento das vendas na construção civil e cessada a euforia consumista, suas vendas desabaram. Ela recorda vários exemplos de consumidores para ilustram o efeito dominó. "Um vendedor de jornais e revistas cancelou suas encomendas porque suas vendas tinham caído", recorda Jackie. "Trabalhadores perto do estabelecimento do vendedor tinham sido afetados pelo corte de horas extras, o que levou à diminuição da venda de jornais e cigarros".

    O resultado da retração é sentido em praticamente todos os segmentos de consumo. Salários mais baixos levam ao freio no consumo, que aumenta a recessão e alimenta a crise, explica a conformada Jackie.

    Onde o pânico começou

    O The Independent foi até a sede do banco Northern Rock, um banco de porte médio e influência regional, ao norte de Newcastle, que concentrava grande quantidade de empréstimos imobiliários lastreados em hipotecas. O Northern Rock emitiu o primeiro "abalo sísmico" na Inglaterra em agosto de 2007, quando um dos três maiores bancos da França, o BNP Paribas, enfrentou um problema de liquidez. Alguns investidores não puderam sacar dinheiro de dois fundos porque o banco não pôde avaliar os ativos que lastreavam as cotas.

    Vários investimentos envolviam pacotes financeiros complexos, explica o diretor do Northern Rock, Adam Applegarth. "Foi o dia em que o mundo mudou", recordou. Os mercados financeiros se fecharam porque investidores não sabiam mais quais bancos tinha liquidez, observa.

    Quando o dinheiro deixou de fluir, bancos como o Northern Rock, que "pedem emprestado a curto prazo para emprestar a longo prazo", foram os primeiros a enfrentar dificuldades ao buscar recursos interbancários. No dia 13 de setembro de 2007, o editor de economia da BBC, Robert Peston, revelou que o Northern Rock tinha pedido apoio de emergência ao Banco da Inglaterra. Segundo Adam Applegarth, não havia nenhum perigo dde quebra do banco,o que foi confirmado pelom jornalista, mas o pânico dos clientes foi inevitável, e a corrida aos caixas sangrou os recursos da instituição.

    Para um antigo funcionário do banco, Dennis Grainger, os maiores prejudicados serão trabalhadores e idosos que aplicaram seus recursos, "orgulhosos", no banco regional. "Não são especuladores, mas simples poupadores que ali depositaram seu dinheiro reservado para a velhice", explica Grainger. Ele próprio, todos os meses, durante 10 anos, depositou 250 líbras saídas de seu salário num fundo de previdência mantido pelo banco.

    Os recursos acumulados para a sua aposentadoria chegaram ao valor de 114 mil líbras. Todo seu investimento virou pó. "Os reais perdedores em tudo isso são os investidores pequenos que trabalharam para o banco ou poupadores que compraram ações e permaneceram leais ao banco, acreditando nos avisos anti-pãnico das autoridades", reclama Grainger.

    A queda do gigante

    Outro perfil escolhido pelo jornal britãnico para ilustrar a crise é a história de Andrew Gowers, executivo que até recentemente tinha um invejado um escritório no 30º andar de uma suntuoso edifício em Canary Wharf, com uma vista privilegiada da City de Londres. O local era vista como um "templo" do capitalismo britânico, equiparado aos melhores endereços de Wall Street.

    Durante o último mês, Gowers - um ex-editor financeiro do Financial Times - viu sua cômoda função de diretor de comunicações do maior banco investimentos dos Estados Unidos desaparecer com a quebra do Lehman Brothers. O banco que iniciou suas atividades em 1850, como uma sociedade de comércio de algodão, desmoronou. Hoje, ele se recupera do trauma no sul da França.

    Para Andrew Gowers, alguns sinais já sinalizavam a crise. "Havia uma consciência geral das dificuldades" - recorda - "desde agosto de 2007". O Lehman concedeu um enorme volume de empréstimos, por volta de US$ 130 bilhões. "Mas acreditávamos que o banco não estava tão exposto quanto algumas instituições menores e já vínhamos adotando estratégias de contenção da crise".

    • Publicações8583
    • Seguidores175
    Detalhes da publicação
    • Tipo do documentoNotícia
    • Visualizações572
    De onde vêm as informações do Jusbrasil?
    Este conteúdo foi produzido e/ou disponibilizado por pessoas da Comunidade, que são responsáveis pelas respectivas opiniões. O Jusbrasil realiza a moderação do conteúdo de nossa Comunidade. Mesmo assim, caso entenda que o conteúdo deste artigo viole as Regras de Publicação, clique na opção "reportar" que o nosso time irá avaliar o relato e tomar as medidas cabíveis, se necessário. Conheça nossos Termos de uso e Regras de Publicação.
    Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br/noticias/efeito-domino-da-crise-assusta-a-inglaterra/168903

    0 Comentários

    Faça um comentário construtivo para esse documento.

    Não use muitas letras maiúsculas, isso denota "GRITAR" ;)