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25 de Abril de 2024
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    Nova lei atinge execução iniciada por normas processuais antigas

    Publicado por Expresso da Notícia
    há 15 anos

    Apesar de a execução do título judicial ter iniciado antes da alteração na lei processual civil, essas mudanças são de aplicação imediata. Por isso, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) reformou decisão da Justiça paranaense e autorizou a intimação sobre uma penhora na figura do advogado do executado, conforme alteração do Código de Processo Civil feita pela Lei nº 11.232 /2005.

    O caso foi julgado na Terceira Turma. A relatora do recurso, ministra Nancy Andrighi, destacou que o direito brasileiro não reconhece a existência de direito adquirido ao rito processual. "A lei nova aplica-se imediatamente ao processo em curso, no que diz respeito aos atos presentes e futuros", afirmou a relatora. Assim, ao contrário do que entendeu o Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR), a execução de título judicial não está imune a mudanças procedimentais.

    A decisão do STJ garante que a intimação do executado possa ser feita na figura do seu advogado, ainda que a execução do título judicial tenha iniciado seguindo a norma processual antiga, que previa a intimação pessoal.

    Outras instâncias

    A ação original teve início por um pedido de indenização contra uma editora jornalística e três pessoas supostamente responsáveis por divulgação de notícia inconveniente contra o autor da ação. Os réus foram condenados ao pagamento de R$ 30 mil a título de danos morais.

    O autor da ação iniciou a execução de sentença, pedindo a citação dos condenados. Encontrou bens de um deles, mas não teve sucesso em intimá-lo da penhora. Para localizar o devedor, requereu a suspensão do processo. Com a entrada em vigor da Lei nº 11.232 /2005 , o autor da ação pediu que a intimação da penhora fosse feita na figura do advogado constituído pelo devedor.

    O juiz de primeiro grau negou o pedido, alegando que não seria possível misturar as duas sistemáticas processuais - a antiga e a nova. O TJPR negou o recurso apresentado pelo autor da ação sob o argumento de que a lei processual teria aplicação imediata, desde que não atingisse atos já exauridos quando iniciada sua vigência.

    Processo REsp nº

    Leia, abaixo, a íntegra da decisão:

    "RECURSO ESPECIAL Nº 1.076.080 - PR (2008/0161107-3)

    RECORRENTE : LUIZ CARLOS CAÍTO QUINTANA

    ADVOGADO : RODRIGO AGUSTINI E OUTRO (S)

    RECORRIDO : JONI PAULO VARISCO E OUTROS

    ADVOGADO : LUIZ FERNANDO CASAGRANDE PEREIRA E OUTRO (S)

    RELATÓRIO

    A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

    Cuida-se de recurso especial interposto por Luiz Carlos Caíto Quintana, com

    fundamento no art. 105 , inciso III , alínea a da Constituição Federal , contra acórdão proferido

    pelo Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.

    Ação: O recorrente ajuizou ação indenizatória em face de Gráfica e Editora

    Cidade S/C Ltda., Joni Paulo Varisco, Adaci Saroli Preisner e Lenita A.C. Picolli, afirmando

    serem os recorridos responsáveis por divulgação de notícia desairosa a seu respeito. Postulou a

    concessão de direito de resposta, bem como a reparação pelos danos morais sofridos.

    Transitada em julgado a sentença que lhe concedeu R$30.000,00 a títulos de

    danos morais, o recorrente iniciou a execução de sentença, requerendo a citação dos recorridos.

    O recorrente encontrou bens de Joni Paulo Varisco e diligenciou, sem sucesso,

    para intimá-lo da penhora. No intuito de localizá-lo requereu a suspensão do processo.

    Com a entrada em vigor da Lei 11.232 /05 , o recorrente requereu fosse o

    recorrido Joni Paulo Varisco intimado na pessoa de seu advogado sobre a penhora.

    Decisão: Indeferiu a intimação do recorrido na pessoa de seu advogado,

    considerando que"não seria possível misturar as duas sistemáticas processuais: a antiga,

    facultando a apresentação de embargos, já que foi citado naquela época, e a nova,

    intimando o advogado da penhora"(fls. 55).

    Acórdão: O Tribunal de origem negou provimento ao agravo de instrumento,

    lavrando acórdão que trouxe a seguinte ementa:

    "Agravo de instrumento. Processo civil. Direito intertemporal. Execução de

    título judicial. Citação na vigência da lei antiga. Inaplicabilidade da Lei

    A informação disponível não será considerada para fins de contagem de prazos recursais 11.232/2005. Recurso não provido. A lei processual nova tem emprego

    imediato, desde que não atinja os atos já exauridos quando iniciada a sua

    vigência. Assim, como o credor já ingressou com a execução, e foi efetivada

    a citação do devedor, inclusive com a realização da penhora, há de se aplicar

    as disposições da lei anterior, que regulamentava a execução de sentença,

    posto que já se perfectibilizou a relação processual da execução, inclusive

    nascendo o direito do devedor à propor embargos à execução".

    Embargos de declaração: Opostos pelo recorrente e rejeitados pelo Tribunal de

    origem.

    Recurso Especial: Sustentou haver violação ao art. 1.211 do Código de Processo Civil por inobservância das regras de direito processual intertemporal, bem como

    violação ao art. 535 , CPC .

    Juízo Prévio de Admissibilidade: Apresentadas contra-razões, o Tribunal de

    origem deu seguimento ao recurso especial, determinando a remessa dos autos ao STJ.

    É o relatório.

    RECURSO ESPECIAL Nº 1.076.080 - PR (2008/0161107-3)

    RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

    RECORRENTE : LUIZ CARLOS CAÍTO QUINTANA

    ADVOGADO : RODRIGO AGUSTINI E OUTRO (S)

    RECORRIDO : JONI PAULO VARISCO E OUTROS

    ADVOGADO : LUIZ FERNANDO CASAGRANDE PEREIRA E OUTRO (S)

    VOTO

    A EXMA. SRA. MINISTRA NANCY ANDRIGHI (Relator):

    Cinge-se a controvérsia a definir qual a lei aplicável ao processo de execução

    iniciado antes da vigência da Lei 11.232 /05 . I. Violação ao art. 535 , CPC .

    O acórdão hostilizado se manifestou sobre todos os pontos suscitados no agravo, alcançando solução que, de acordo com a unanimidade dos votantes, foi tida como a mais justa e apropriada para a hipótese vertente.

    A prestação jurisdicional dada, portanto, corresponde àquela efetivamente objetivada pelas partes, sem omissão a ser sanada, tampouco contradição a ser aclarada. O Tribunal a quo pronunciou-se de maneira a abordar a discussão de todos os aspectos fundamentais do julgado, dentro dos limites que lhe são impostos por lei.

    O não acolhimento das teses contidas no recurso não implica em obscuridade, contradição ou omissão, pois ao julgador cabe apreciar a questão conforme o que ele entender relevante à lide. Não está o Tribunal obrigado a julgar a questão posta a seu exame nos termos pleiteados pelas partes, mas sim com o seu livre convencimento, consoante dispõe o art. 131 do CPC , utilizando-se dos fatos, provas, jurisprudência, aspectos pertinentes ao tema e da legislação que entender aplicável ao caso.

    Dessa forma, correta a rejeição dos embargos de declaração, não havendo que se falar em ofensa ao artigo 535 do CPC .

    II. Juízo de Admissibilidade.

    A hipótese dos autos versa sobre execução de título executivo judicial que, após a penhora, é colhida pela vigência da Lei 11.232 /05 .

    O Tribunal de origem entendeu que a sistemática antiga deveria prevalecer, razão pela qual o recorrente haveria de promover a intimação pessoal do devedor acerca da penhora.

    Ocorre que, com o advento da Lei 11.232 /05 , ficou estabelecido que"do auto de penhora e de avaliação será de imediato intimado o executado, na pessoa de seu advogado ( arts. 236 e 237 ), ou na falta deste, o seu representante legal, ou pessoalmente, por mandado ou pelo correio (...)"( art. 475-J , § 1º , CPC ).

    Por esta razão, o recorrente insiste na aplicação da nova legislação, afirmando haver violação ao art. 1.211 , CPC , que, no seu entender, determina a aplicação imediata da lei processual nova, atingindo o processo no ponto em que este se achar.

    A aplicação do art. 1.211 , CPC , à controvérsia dos autos já havia sido objeto de pedido expresso no agravo de instrumento interposto pela recorrente. Ainda que o Tribunal de origem não tenha feito menção expressa a esse dispositivo legal, é certo que tratou longamente do tema, discutindo, em detalhes, os efeitos da lei nova no tempo. Assim, a questão está bem

    prequestionada.

    Por outro lado, a apreciação da controvérsia, não exige reapreciação de provas ou

    fatos, limitando-se ao exame dos efeitos jurídicos advindos de fatos certos, não controversos e

    soberanamente reconhecidos pelo Tribunal de origem.

    Isso é o que basta para o conhecimento do recurso especial. Passa-se, portanto, à análise de seu mérito.

    III. Violação ao art. 1.211 , CPC .

    O art. 1.211 , CPC , em sua interpretação literal, não é uma norma geral de direito intertemporal. Ao contrário, seu sentido está, à princípio, adstrito à eficácia das normas originárias do CPC no tempo. Com efeito, o mencionado artigo estabelece que"este Código regerá o processo civil em todo o território brasileiro. Ao entrar em vigor, suas disposições aplicar-se-ão desde logo aos processos pendentes".

    No entanto, esta Corte vem dando interpretação mais ampla a esta regra, para tratá-la como regra geral aplicável a todo o processo civil. Com isso, essa norma regula os efeitos temporais da Lei 11.232 /05 .Confira-se:

    "PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO. IMPUGNAÇÃO. RECURSO

    CABÍVEL. DIREITO INTERTEMPORAL. 1 - Em tema de direito processual

    intertemporal prevalece "o chamado isolamento dos atos processuais, pela

    qual a lei nova, encontrando um processo em desenvolvimento, respeita a

    eficácia dos atos processuais já realizados e disciplina o processo a partir de

    sua vigência (Amaral Santos)." 2 - O recurso cabível contra a decisão que

    resolve a impugnação, na fase executiva do processo, é, como regra, o

    agravo de instrumento, conforme o art. 475-M , § 3º , do CPC , acrescentado

    pela Lei nº 11.232 /2005. O fato de, no caso concreto, ter havido o manejo de

    embargos do devedor, ainda sob a vigência do anterior regramento, não faz

    concluir pelo cabimento de apelação só porque proferida a decisão que o

    resolve já quando em vigor o mencionado dispositivo. Aplicação do art. 1.211 do CPC (tempus regit actum). 3 - Recurso especial conhecido e provido

    para determinar ao Tribunal de origem o julgamento do agravo, conforme

    entender de direito"(REsp 1.043.016/SP , 4a Turma, Rel. Min. Fernando

    Gonçalves, DJe 23/06/2008).

    "(...) Embora o processo seja reconhecido como um instrumento complexo,

    no qual os atos que se sucedem se inter-relacionam, tal conceito não exclui a

    aplicação da teoria do isolamento dos atos processuais, pela qual a lei nova,

    encontrando um processo em desenvolvimento, respeita a eficácia dos atos

    processuais já realizados e disciplina o processo a partir da sua vigência.

    Esse sistema, inclusive, está expressamente previsto no art. 1.211 do CPC

    (...)"(MC 13.951/SP , 3a Turma, minha relatoria, DJe 01/04/2008).

    Com isso, pode-se dizer que o direito brasileiro não reconhece a existência de

    direito adquirido ao rito processual. A lei nova aplica-se imediatamente ao processo em curso, no que diz respeito aos atos presentes e futuros. Vale a regra do tempus regit actum. Por isso, é

    impreciso afirmar que a execução de título judicial, uma vez ajuizada, está imune a mudanças

    procedimentais. Confira-se, nesse sentido, o seguinte precedente:

    "RESP. AÇÃO DE PRESTAÇÃO DE CONTAS. SEGUNDA FASE.

    INCIDÊNCIA DO ART. 475/J DO CPC . TRÂNSITO EM JULGADO.

    SENTENÇA ANTERIOR À LEI 11.232 /2005. 1. Uma vez transitada em

    julgado a sentença que, na segunda fase da ação de prestação de contas,

    declara a existência de um crédito em favor da empresa-autora, na forma do

    art. 918 do Código de Processo Civil , adequada a aplicação da letra do art. 475-J, deste mesmo diploma legal, ainda que anterior a decisão à sistemática

    introduzida pela Lei 11.232 , de 22 de dezembro de 2005, por força da norma

    do art. 1.211 daquele Código. 2. Recurso especial não conhecido"(REsp

    1.026.610/RS, 4a Turma, Rel. Min. Fernando Gonçalves, DJe 12/08/2008).

    Tem-se, assim, que os atos pendentes a serem praticados no processo iniciado

    pelo recorrente passam a ser regido pela Lei 11.232 /2005.

    Como o Tribunal de origem reconheceu que o recorrente"promoveu a execução

    de sentença em 01.12.2004 (fls. 36) requerendo a citação do executado via carta precatória

    para a Comarca da Região Metropolitana de Curitiba, a qual foi cumprida em data de

    30/06/2005 (fls. 38), tendo ainda sido efetivada a penhora em imóvel dos executados (fls.

    44). Destaque-se que somente não houve ainda a intimação da penhora"(fls. 81), vê-se que

    a intimação da penhora era efetivamente o ato pendente e deveria se dar sob a forma da lei nova.

    Com isso, era efetivamente de se dispensar a intimação pessoal do executado que

    teve seus bens constritos se, nos autos, ele é representado por advogado regularmente

    constituído, nos termos do art. 475-J , § 1º , CPC .

    Forte em tais razões, DOU PROVIMENTO ao Recurso Especial, para

    determinar que a intimação da penhora se dê na forma do art. 475-J , § 1º , CPC .

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